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O Silêncio do Cordeiro

  • 26 de out. de 2016
  • 10 min de leitura

”Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a sua boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca” Isaías 53.7

Todo o ministério de Cristo foi marcado por densas pregações, sermões extensos e ensinos profundos a respeito das coisas celestiais. Certamente, Jesus usava em muito a capacidade da comunicação oral para comunicar coisas às pessoas com quem Ele cruzava. Não foram poucas as vezes que Jesus teve de ir à lugares altos para pregar às multidões que o seguiam (Mt 5.1-7.29; Mt 13.1-52); sem falar das vezes em que Ele, com toda autoridade, censurou os líderes religiosos da época (Mt 23.1-36) e investiu firmemente contra os que faziam da casa de Deus um verdadeiro “covil de salteadores” (Mc 11.15.17).

Sim, Jesus pregava, ensinava, exortava, repreendia e até debatia. Contudo, no momento mais difícil da sua vida Ele se calou. Não proferiu palavra alguma para se defender da morte violenta que o aguardava em poucas horas. Observe este relato:

“E levaram Jesus ao sumo sacerdote, e reuniram-se todos os principais sacerdotes, os anciãos e os escribas. Pedro seguira-o de longe até ao interior do pátio do sumo sacerdote e estava assentado entre os serventuários, aquentando-se ao fogo. E os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho contra Jesus para o condenar à morte e não achavam, pois muitos testemunhavam falsamente contra Jesus, entretanto os depoimentos não eram coerentes. E, levantando-se alguns, testificavam falsamente, dizendo: Nós o ouvimos declarar: ‘Eu destruirei este santuário edificado por mãos humanas e, em três dias, construirei outro, não por mãos humanas’. Nem assim o testemunho deles era coerente.

Levantando-se o sumo sacerdote, no meio, perguntou a Jesus: ‘Nada respondes ao que estes depõem contra ti? ’ Ele, porém, guardou silêncio e nada respondeu. Tornou a interrogá-lo o sumo sacerdote e lhe disse: ‘És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito? ’ Jesus respondeu: ‘Eu sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu. ’ Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes e disse: ‘Que mais necessidade temos de testemunhas? Ouvistes a blasfêmia; que vos parece? ’ E todos o julgaram réu de morte. Puseram-se alguns a cuspir nele, a cobrir-lhe o rosto, a dar-lhe murros e a dizer-lhe: ‘Profetiza! ‘ E os guardas o tomaram a bofetadas. ”

O cenário é muito perturbador. Está Jesus sendo interrogado pela religião. A razão da existência de Israel está sendo prensada pelo poder religioso a fim de estes encontrassem em Cristo, algo que saísse de sua boca. E a resposta de Cristo? Silêncio. Isso é impressionante. Se você ou eu estivéssemos no lugar dele, certamente tentaríamos usar toda nossa retórica, nossa capacidade argumentativa, a fim de nos defendermos das acusações falsas feitas à nossa pessoa.

Contudo, na pessoa de Jesus não foi assim. Nos últimos minutos de sua vida, Jesus não quis falar muita coisa. Parece que as palavras não tinham mais razão de serem pronunciadas, ao menos não para sua defesa. Para os religiosos, finalmente o seu potencial adversário foi pego e agora se calou. Mas, esse silêncio não foi de medo. Jesus é um homem de postura equilibrada. Ele tem uma missão. Durante toda sua vida Ele se preparou para este dia, especialmente nos seus 3 últimos anos. Jesus sabe que é o Cristo (Mt 3.17; Mt 16.16). Ele sabe que é o Filho de Deus (Jo 14.2; Jo 17.1) e sabe muito bem a missão que lhe foi confiada, por isso diz: “Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora. ” (Jo 12.27).

Qual a razão desse silêncio? Por que ele ficou “como ovelha muda perante seus tosquiadores”? Provável que tenha duas razões claras a respeito disso. A primeira, foi aquela relatada em Mateus 26.36-46. O que aconteceu ali que nos ajuda a dar luz a este silêncio do Cordeiro?

Jesus foi para o Getsêmani, levou consigo seus discípulos e passou a orar por conta do cálice que estava prestes a beber. Jesus clamava ao Pai para que o cálice não só da ira, mas do afastamento de Deus não lhe fosse dado, contudo sempre afirmando em sua oração, que a vontade do Pai prevalecesse. Pois bem, logo após este momento, Judas chegou com alguns soldados e o entregou.

Quando estava diante dos líderes religiosos, muito provavelmente Ele compreendeu que sua oração [como sempre], fora respondida. Estava ali Jesus participando de toda a vontade de Deus e cumprimento de seu ministério de maneira clara. Outra razão talvez seja que Jesus entendia que muitas das vezes o silêncio é a melhor resposta que damos a alguém. Mesmo que Jesus falasse a verdade sobre si mesmo, como de fato o fez (Mc 14.62), Ele sabia que não adiantaria de muita coisa, pois o desejo deles era dar cabo da vida de Jesus (Mt 26.66).

A maior dificuldade teológica sobre esse texto é a sequência dele. Perceba o que é relatado por Marcos no capítulo 15.1: “Logo pela manhã, entraram em conselho os principais sacerdotes com os anciãos, os escribas e todo o Sinédrio; e, amarrando a Jesus, levaram-no e o entregaram a Pilatos. ”

A respeito de Jesus, João diz: “Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3). No texto de Marcos é dito que o Criador de “todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades” (Cl 1.16) agora está amarrado. Quão complexo é isso!

Como que um ser de tamanho, poder e glória, que poderia “rogar”, diz ele, “ao Pai, e Ele mandaria [...] mais de doze legiões de anjos” (Mt 26.53), está amarrado? Certamente que a resposta dele é aquela proferida por Ele mesmo: “fazer a vontade daquele que O enviou” (Jo 6.38). E qual é a vontade dAquele que O enviou? Isso é claro nas Escrituras: Jesus veio para ser o substituto do homem, e resgatar para si o povo que lhe foi dado pelo Pai (Jo 6.38,39,40,44,47,57) e salvá-lo.

Não há espaço na bíblia para se falar de uma ovelha que se debatia com o objetivo de fugir de sua morte enquanto estava prestes a morrer. Claro que Ele sentiu dor enquanto orava no Getsêmani (Mt 26.38; Lc 22.44). Sem sombra de dúvida ele gritou enquanto apanhava e era escarnecido pelos religiosos (Mc 14.63). O que falar da coroa de espinhos em seu couro cabeludo? Dr Barbet, médico cirurgião francês, na sua descrição sobre os sofrimentos de Jesus¹ disse o seguinte:

“Com longos espinhos, mais duros que os de acácia, os algozes entrelaçam uma espécie de capacete e o aplicam sobre a cabeça. Os espinhos penetram no couro cabeludo fazendo-o sangrar (os cirurgiões sabem o quanto sangra o couro cabeludo). ”

Certamente houve gritos e gemidos de dor por parte de Jesus, pois Marcos relata que “davam-lhe na cabeça [onde estava a coroa de espinhos] com um caniço” (Mc 15.19). E quando os soldados “despiram-lhe a púrpura”? Dr Barbet comenta novamente:

“Os carrascos despojam o condenado, mas sua túnica está colada nas chagas e tirá-la produz dor atroz. Quem já tirou uma atadura de gaze de uma grande ferida percebe do que se trata. Cada fio de tecido adere a carne viva; ao levarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas em descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento. Há um risco de toda aquela dor provocar uma síncope, mas ainda não é o fim. O sangue começa a escorrer. ”²

Você poderia me perguntar: “Que silêncio é este que você se propôs a defender? ” Ou até mesmo afirmar: “você está contradizendo seu próprio argumento e descaracterizando a proposta do seu texto”.

Para entender o Silêncio do Cordeiro é bom entender antes de tudo o que o profeta Isaías quis dizer com a declaração “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a sua boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca”.

São três divisões claras no texto que expressam a mesma verdade a respeito do Servo (Is 52.13):

  1. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a sua boca;

  2. Como cordeiro foi levado ao matadouro;

  3. Como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca.

Vamos analisar uma a uma.

  1. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a sua boca:

Fica claro aqui que o texto fala de uma pessoa. Alguém que foi (1) oprimido e (2) humilhado.

O que é ser (1) oprimido? O dicionário popular o conceitualiza da seguinte maneira:

  1. 1. Diz-se de quem é afetado por opressão; que é recalcado ou reprimido; 2. Que é seguido ou importunado; 3. Humilhado ou vexado; 4. Amargurado ou atormentado; n.m. 5. Designação de pessoa que sofre de opressão; 6. Sujeito que é importunado ou perseguido.

Jesus passou por tudo isso. Basta analisar toda sua trajetória desde o Getsêmani até ao Calvário³. Foi ali que a raiva que o homem tem de Deus e a ira de Deus em relação ao pecado humano foram encarados. Ali, o furor da ira de Deus e o ódio do homem pecador a Deus foram enfim, chocados.

E o que é ser (2) humilhado? O mesmo dicionário diz o seguinte a respeito:

v. t. 1. envergonhar, rebaixar: humilhar alguém em público

Como bem sabemos, Jesus é Deus Todo-Poderoso. Ele criou tudo que existe, e nEle tudo subsiste (Cl 1.17). O problema maior não é a humilhação em si, mas a pessoa humilhada. Foi Jesus, o Filho de Deus que foi humilhado: O Rei dos reis, o Senhor dos senhores; Aquele que habita em luz inacessível (1Tm 6.15-16).

Pois bem, parece que a humilhação de se tornar homem (Fp 2.7-8) não foi o suficiente. Ele quis entregar a Sua vida, permitiu-se submeter ao mais alto grau de tortura: emocional, físico, espiritual. Ele foi humilhado. Como explicar uma coisa como esta? Como entender a mente do Senhor? Como virar-se para Ele, como Pedro o fez, dizendo: “Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá” (Mt 16.22)?

Foi deliberação própria descer “até as regiões inferiores da terra” (Ef 4.9)!

A maior dificuldade é o que Isaías continua a relatar. Analisemos.

  1. Como cordeiro foi levado ao matadouro.

Todo esse texto é como um filme. Um filme de terror. Você tem o Servo, que é o ator principal. E você tem seus algozes, os malfeitores.

Estamos analisando Marcos 15.1-2.

“Logo pela manhã, entraram em conselho os principais sacerdotes com os anciãos, os escribas e todo o Sinédrio; e, amarrando a Jesus, levaram-no e o entregaram a Pilatos. Pilatos o interrogou: ‘És tu o rei dos judeus? ’ Respondeu Jesus: ‘Tu o dizes. ’ ”

A religião não tinha razões para matar a Jesus. Dolo algum saiu de sua boca (1Pe 2.22), eles reconheciam isso. Eles também sabiam que no que diz respeito aos procedimentos de Cristo, eles não tinham do que acusá-lo (Jo 10.33). E o que fizeram então? Desmunidos de razão para dar cabo da vida do Filho de Deus, saíram do setor religioso e o entregaram ao setor político.

Acusaram Jesus de sedição. Pura mentira. Aqui também há uma aplicação prática para nós. Abro um parêntese para dizer que a religião, mesmo com a bíblia nas mãos e fé pode se voltar contra Cristo e matá-lo. Cuidado com a religião.

Mas foram estes que . A religião se responsabilizou por todas as etapas do assassínio de Jesus. Ela o prendeu, o torturou, entregou-O nas mãos do poder político (Mc 15.1), pressionou a Pilatos para crucificarem a Jesus (Mc 15.13) o que levou Pilatos a entregá-lo ao poder executivo.

  1. Como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a sua boca.

O tosquiador é aquele que arranca a lã da ovelha. Apesar do texto de Isaías deixar claro o sofrimento do Cordeiro, ele está longe de deixar margem para desesperança.

O Servo sofredor aqui é o prometido no capítulo 9 deste mesmo profeta. O texto diz: . Neste momento do livro de Isaías é relatada a missão do Cordeiro, como descritas nos versos 4 e 5:

“Certamente, ele tomou as nossas enfermidades e as dores levou; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado transgressões e moído iniquidades; o castigo que nos traz a paz , e pisaduras fomos sarados. ”

Aqui o Servo é descrito com duas coisas: As dores de alguém e o meio para curá-las. O mesmo profeta ainda afirma nos versos 10-12:

“Todavia, ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do SENHOR prosperará nas suas mãos. Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si. Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte, foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu. ”

Quando se fala sobre tosquiar ovelhas, se pensa em sofrimento de cara. De fato, há certa dor no ato de tosquiar ovelhas, quando o 4. Mas há um benefício nessa tosquia. Há algo na tosquia que pode ser desfrutado pela ovelha, e o site da Fazenda Caixa D'água fala a respeito disso:

“[...] ao contrário do que muita gente pensa, a retirada da lã na época correta é um bem para os animais, porque leva à um estímulo para maior ingestão de alimentos, melhorando a condição corporal das ovelhas e a maior produção de leite para os cordeiros. ”

No caso da tosquia de ovelhas, os tosquiadores são beneficiados pelo produto da lã. Mas a ovelha e suas crias também são beneficiadas. No caso de Jesus, é óbvio que o princípio foi o mesmo. A religião achou que deu cabo dAquele que mais a atrapalhou durante os anos de sua vida. Os soldados acharam que foram bem-sucedidos quando humilhavam a Jesus, batiam nele, cuspiam-no e falsamente o adoravam (Mc 14.16-20).

Mas a condenação daqueles que fizeram isso com Jesus é certa (Mc 14.21; At 2.23). Aqueles que tinham sentimentos auspiciosos, na verdade falharam. Sua missão foi um fracasso e a condição corporal da Ovelha e sua produção de leite para os cordeiros aumentou.

O que quero dizer com isso? O Silêncio do Cordeiro foi sua vitória. Ao Pai agradou moê-lo a fim de que levasse o pecado de muitos. Deus separou um povo para si e comprou este povo com o Seu próprio sangue (At 20.28). Tudo foi planejamento santo e sábio de Deus.

O pregador galês do século XX, Dr. Martyn Lloyd-Jones expressou tudo isso nas seguintes palavras:

“Olhe novamente para a cruz, meu amigo. Contemple-a, examine-a uma vez mais, com maior profundidade e atenção. [...]

Então, contemplo a de Deus. Se você deseja saber algo da sabedoria divina, olhe para a cruz. Lá está a solução de Deus ao problema que ele mesmo viu antes de criar o mundo. O homem iria pecar e, ainda assim, Deus deseja perdoá-lo. Como pode ser? Deus, em sua eterna sabedoria, estabeleceu o caminho e o plano.

Ó amorosa sabedoria de nosso Deus!

Quando tudo era pecado e vergonha,

Um segundo Adão para a batalha

E para o resgate veio.

J.H. Newman

[...] Lá você pode vislumbrar a mente do eterno, solucionando o problema eterno”

Concluo esse artigo convidando- o a ler o próximo, cujo título será “O Rugido do Leão”.

Deus te abençoe.

Caio Matos

FONTE:

1 http://www.ebdonline.com.br/estudos/sofrimentocristo.htm

2 http://www.ebdonline.com.br/estudos/sofrimentocristo.htm

3 Mt 26.36 – 27.56; Mc 14.32 – 15.41; Lc 22.39 – 23.49

4 http://caixadagua.com/blog/?p=310

5LLOYD-JONES, Martyn. A Mensagem da Cruz – O caminho de salvação de Deus. Editora Palavra, 2009; 1º Ed.


 
 
 

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